Depois de 34 dias no Nepal era hora de continuarmos a nossa viagem. O próximo destino foi um pequeno país muito próximo de onde estávamos, mas totalmente desconhecido para nós. Há muito tempo que a Mila falava que gostaria de conhecer o Butão e quando resolvemos visitá-lo descobrimos que o país tem uma maneira única de lidar com o turismo. O processo para conseguir visto precisa ser feito por uma agência local e há uma taxa diária obrigatória de US$ 250,00 por pessoa, que inclui hospedagem, refeições, traslados e guia. Achamos uma agência pela internet, fechamos com eles e embarcamos sem muitas informações, só sabendo que iríamos passar dois dias em Paro, caminhar por 5 dias até Timphu, a capital, e ficar lá por mais dois dias. Os detalhes da viagem seriam uma enorme surpresa!
No aeroporto de Kathmandu fizemos uma pesquisa sobre o país, também conhecido por Druk Yul, ou “terra do dragão”, para conhecermos ao menos um pouco antes de nossa chegada. Sua história é extremamente ligada à religião. Os primeiros registros se dão no início do século VII, quando o guru Rinpoche, pai da corrente tântrica do Budismo Mahayana e considerado o segundo Buda, chegou às terras do vale de Paro se instalando no local onde hoje fica o monastério mais conhecido do país, o Tiger’s Nest (ninho do tigre). Após este período grande parte da história se perdeu em dois grandes incêndios nos arquivos do país, e só existem registros de quase 1000 anos depois.
Em 1616, foi a vez do lama tibetano Shabdrung Ngawang Namgyel, da mesma corrente religiosa, ir para aquelas terras. Ainda não existia um governo unificado, a região estava em constantes guerras civis entre os diferentes povos locais e sofrendo sucessivos ataques do Tibete. Através da religião ele conquistou apoio das principais famílias e, não só acabou com as guerras civis, como venceu a guerra contra o Tibete, unificando o país pela primeira vez em 1639. Após sua morte, voltaram as guerras civis e somente em 1907, Penlop de Tongsa conseguiu acabar com elas e transformar o país no atual Reino do Butão, um dos poucos países no mundo que adotaram o Budismo Mahayana como religião oficial.
O reinado já está na quinta geração, mas o quarto rei, Jigme Singye Wangchuck, ainda é adorado pela população. Sob seu comando o Butão aderiu às Nações Unidas e foi aberto para o turismo. Foi ele o criador da filosofia de Felicidade Interna Bruta (GNH – Gross National Happiness) adotada atualmente no país, e quem instaurou o Parlamento, transformando o país em uma democracia.
O turismo iniciou em 1974 e hoje está estruturado. Mesmo com apenas 35.000 turistas entrando no país por ano, ele já é a segunda fonte de renda do país. Com o modelo de turismo adotado o país limita seu público alvo a pessoas com maior poder aquisitivo, que deixam mais divisas.
O inovador conceito de Felicidade Interna Bruta (GNH – Gross National Happiness) define que a evolução do país não deve se dar somente em termos econômicos, mas também em relação à qualidade de vida do povo. Ou seja, para o país ter um desenvolvimento sustentável é necessário que os indivíduos se desenvolvam tanto no âmbito material quanto espiritual. Para isso foram definidos quatro pilares:
1. Conservação do meio ambiente: manter pelo menos 60% do território nacional coberto por vegetação nativa. Hoje o Butão tem 72% e é um dos poucos países negativos em emissão de carbono.
2. Desenvolvimento social e econômico sustentável: acelerar o desenvolvimento tendo como principal objetivo a igualdade social entre os indivíduos.
3. Governança responsável: ser um governo exemplar perante o mundo e a população local.
4. Preservação da cultura: acelerar o desenvolvimento, mas manter o patrimônio cultural do país, representado pelo povo, religião, rituais, arquitetura, eventos; enfim pelo “estilo de vida butanês”.
Para finalizar, alguns dados interessantes:
– A população do país é de pouco mais de 697 mil, segundo o app CountryStats da United Nations.
– A área do país é de 38.394 Km quadrados, ou seja, 0,45% da área do Brasil, menor que o estado do RJ.
– O PIB do país atingiu NGB 85 bi (aprox. US$ 1,6 bi) em 2011, com um crescimento de 18%, segundo o jornal local Buthan News.
– O traje nacional dos homens é o Gho, um tipo de vestido.
– O uniforme escolar é o traje nacional.
– A capital é Timphu com 120 mil habitantes.
– A língua oficial é o Dzongkha, mas existem 18 dialetos diferentes no país.
– A moeda do país é o Ngultrum, sendo que R$ 1 = BTN 26.
– A comida típica é o Aema Datsi, literalmente pimenta malagueta e queijo. Os locais comem esta mistura com arroz diariamente, do café da manhã ao jantar.
– O animal nacional é o Takin, um antílope cabra.
Deixar um comentário