Gorakshep – Kala Patthar – Thukla – Periche
Eram 3:05 da manhã quando acordamos para enfrentar nosso último desafio antes de começar a caminhada de retorno.
Sair de dentro do saco de dormir foi um sofrimento, trocar de roupa foi uma tortura! Depois de colocar duas calças, meias de frio, botas, três agasalhos, gorro e luvas, às 4 da manhã saímos de nossa Tea House para começar a íngreme subida até os 5.550m do Kala Patthar.
Estava abaixo de zero, mas com um céu estrelado como nunca havia visto antes. Dos vinte que estão participando do trekking, apenas 14 toparam o desafio.
A subida não era moleza, muito inclinada desde o primeiro passo. A altitude e o frio dificultavam cada vez mais a respiração. Com o ar rarefeito, cada vez que tentávamos inspirar, parecia que não entrava oxigênio suficiente e o pulmão pedia mais ar, então respirávamos mais rápido e, com isso, o coração disparava. Naquela altitude estávamos com apenas 50% do oxigênio presente no nível do mar. A sensação era horrível.
Mas para compensar tínhamos uma paisagem maravilhosa. Ao nosso lado esquerdo a lua cheia iluminando o caminho, à direita o Everest com uma estrela brilhando bem no seu pico e à frente o topo do Kala Patthar nos desafiando a alcançá-lo.
Não foi nada fácil! Para falar a verdade, foi uma das atividades mais difíceis que já fiz. Queria chegar no topo antes do sol raiar, mas cada vez que acelerava um pouco, o coração disparava e o corpo todo doía. A água no camel back congelou e matar a sede estava bem difícil. Mas depois de duas horas de esforço, finalmente alcançamos o topo! E depois de alguns minutos o sol começou a aparecer, dando um brilho especial aos glaciares abaixo e aos picos brancos do Everest, Nuptse e Pumo Ri.
As nuvens aos nossos pés pareciam um mar de espumas e completavam o visual que parecia tirado de um quadro. Com o sol, veio também o calor para aquecer nossos corpos gelados (por sinal, meus dedos dos pés e das mãos só “descongelaram” duas horas depois).
Esquecemos todo o esforço e ficamos admirando a paisagem que poucos tiveram a oportunidade de ver pessoalmente. Mas ainda tinha o caminho de volta, então depois de 30 minutos no topo era hora de retornar.
A descida foi bem mais fácil e às 8 horas chegamos de volta à nossa Tea House, uns chorando, outros sorrindo, mas todos com um sentimento delicioso de desafio cumprido!
E o dia não havia acabado, tínhamos ainda 6 horas de caminhada até Periche, onde passaríamos a noite.
O caminho foi cansativo e, como descemos quase 1.000 m, a paisagem começou a mudar bastante. Estávamos vendo pouquíssima vegetação rasteira e plantações de batata, com apenas alguns corvos e águias sobrevoando e iaques buscando alimentação. Agora já vemos árvores mais altas, algumas flores, plantações de batatas, cevada e outros cereais, ainda com corvos e iaques, mas já aparecendo outros pássaros menores e alguns cachorros.
No caminho paramos para fazer uma homenagem a uma australiana que foi assassinada três semanas antes de se juntar ao grupo da viagem, e também para almoçar. Depois retomamos a caminhada e chegamos às 16 h na Tea House Himalayan Hotel em Periche.
Para completar o dia maravilhoso, eu e a Mila fomos presenteados com um quarto com banheiro dentro. Como banheiro entendam uma privada de sentar (e não um buraco no chão) e uma pia. O banho ainda era coletivo, mas era quente e pudemos “lavar a alma” depois de três dias só com água gelada e banhos de lenços umedecidos.
Periche – Phortse
Dormimos muito bem, ainda mais que no dia seguinte o início da caminhada foi somente às 9 horas.
O percurso foi cheio de subidas e descidas e o tempo fechou rapidamente. Pela primeira vez, não pudemos ver a paisagem pois ficou completamente nublado.
Quando chegamos na Tea House de Phortse a surpresa não foi igual a do dia anterior. Não havia nem privada, somente buraco no chão, e o banho era uma casinha fora, com um balde cheio de água aquecida no fogão, ligado ao chuveiro por uma mangueira!
Mas tudo bem, pelo menos podemos dizer que ficamos na casa do Panuru, um sherpa que subiu o Everest 10 vezes (e como aquecimento também subiu 12 vezes o Cho Oyu de 8.201 m).
Acompanhe o restante de nosso retorno no post: Trekking ao Everest Base Camp: 11° e 12° dias
Que imagens!!!! Nota 1000!!!!